22/08/2014

Desejos infantis


A cada dia me torno mais estranha. A cada dia já não reconheço a minha face adormecida na amplidão. A cada dia sinto-me menos fluída; e me nego, um pouco mais, à contemplação. A cada dia me desinteresso por coisas sensatas. E por coisas não sérias também! A cada dia apresento menos tolerância; para não dizer: desdém! A cada dia choro em meu silêncio. E clamo uma nova cor e ideia. Contrariamente, tarda-me chegar a primavera. E, com ela, a luz e a chama de uma vela. Assim os meus dias vão passando: sem serenidade, dormência ou engano. Assim os meus dias vão perdurando... (enquanto choro em meu silêncio), os meus desejos infantis e secretos planos.


h.f.
1 ago./2007



*Texto revisitado.

rendição


lua
se eu fosse
rua

caía na lábia
sua

antes que a Via-Láctea
evolua


h.f.
21 ago./2014


05/08/2014

In_variável

a Marcus Vinicius, companheiro de vida.


Não é porque a noite se mostra negra que esqueço o brilho das estrelas. Não é por não dispor de chaminé que desacredito em papai Noel. Não é porque o Sol se enfada, se deita, que anuncio novo dia. Não é porque a lua se apresenta gueixa, que afago cometas e vaga-lumes. Não é por essas e outras coisas que amo esse mesmo outro homem.



Esqueço o brilho das estrelas porque a noite se mostra negra. Desacredito em papai Noel por não dispor de chaminé. Anuncio novo dia porque o Sol se enfada, se deita. Afago cometas e vaga-lumes porque a lua se apresenta gueixa. Amo esse mesmo outro homem por essas e outras coisas.




*Texto reeditado, a versão original é de 27 ago./2009. 



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)