31/01/2010

peso e medida



De repente...

Não mais que de repente...

E só ficaram as vestes noturnas da saudade

E pousaram, sobre mim, as escuras asas da sobriedade.


Porque o verde virou cinza

(tenho visto, não há cor pior!)

E o azul glicerina

(tenho dito: a imagem deformou-se por tanta dó).


O olhar sereno, meigo, inocente

perdeu a cor, o ritmo, o tom

Dando lugar à dúvida, à luxúria...

ao peso e à medida da razão.


E o olhar entristecido,

embevecido no trajeto e no passo vazio,

rio estarrecido das cores cinza do frio coração.


Assim, haja vista!...



(02 Jan. 2007)


*Imagem localizada no Google.

29/01/2010

sabiá




Chegou bem.

Foi ficando avaro

Até aos pombos

tornou-se escasso.


Não era alimento

tampouco, emplastro!...




27/01/2010

aos portugueses

Graça Pires, do Ortografia do olhar




ainda que falasse rosa

não lerias as estrelas

banhasse em fulgores

não seria a ti aquosa


deixai-me aos Açores

mar serei envolta






26/01/2010

somente às vezes...


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Às vezes penso que sou ar,
outras, água
horas bem devagar
presa à terra e, sem asas,
me ponho a voar.
Às vezes não quero voltar
e finjo ser o que não sou
porque é triste ser navegador
sem barco certo e vento a favor.
Às vezes sou apenas nada
e, sem nada, sigo o meu caminho.
Às vezes sou uma triste toada
perdida na mata, solada, do sozinho.
Às vezes sou chuva
e me enfeito com adereços de flor.
Mas também sou seca
e me sirvo de afã beleza
nascida da dor.
Às vezes sou interrogação
ou previsível e água-mole e vulcão.
Segredo, unidade, segregação
Pavio curto e leite derramado
no bolso escancarado de um velho blusão.
Às vezes, somente, às vezes...

(01 fev. 2007)
*Ilustração extraída do Google Imagens.

24/01/2010

retalhos no porão

Coincidentemente, hoje estou no Poema Dia, Balaio Porreta e no Maria Clara: simplesmente poesia.


Van Gogh



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................Seu nome será memorizado

..........................0 canto insano condecorado

..........................por violinos e violões equidistantes



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................Sua dor medida será brava e desmedida

..........................a voz palatina

..........................efervescida pela hábil dançarina de cabaré



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................Sua orelha, finalmente, será remendada

..........................a aquarela transfigurada

..........................à moda visionária de um artista rubro



Esperemos, pois, um novo século!...



..........................O funeral corteja a galope

..........................o viajante anteviu a primeira pá

..........................resta, enfim, costurar:


.........................(gente maldita e famigerada)


.........................- os velhos retalhos no porão.




Esperemos, pois, um novo século!


(01/05/08)



*Texto também disponível em o Poema Dia.


16/01/2010

cotidiano

foto: Maria Gomes


Leite é morno, amor

se agrado poderá bebê-lo

só não ponha olhado no tempero

preciso aprontar almoço

dá-lo às crianças...




15/01/2010

contudos

à nina rizzi

foto: José de Almeida & Maria Flores


então é isso...

foram peixes

ficaram anzóis

fome de-lírio

: isca nós


(14 jan. 2010)


Sinais do vento


O interessante de tudo é que não houve contudos...

Aceitaram, enfim, a fatalidade na lei da gravidade e os sinais de alerta no trânsito.

O interessante de tudo é que tinha de ser assim...

Havia de haver um ponto final às vírgulas embriagadas na comprida estrada.

– Então, por que a saudade?

Porque permanecem os sonhos e os naufrágios. Gotas de orvalho decorando cartas de amor.

O relógio em descompasso mapeando a geografia do corpo quando se perde a primeira hora no café da manhã.

Porque pulsa e toma força estranha: reclama, arranha e desembocam rios na aspereza e na esterilidade.

Porque se percebe, no abismo, um lugar habitável e não há como transpor extremidades no curso natural do vento.

Isso tudo é interessante e requer sofia.

Não para oferecer explicações às indeléveis expedições humanas na enciclopédia do tempo.

Mas para acalmar a ventania que assola as noites de tempestade...


(30 ago. 2008)


13/01/2010

providência


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foto: Sweetcharade
Busco-te...

como quem prende âncora ao mar
como quem cai abismo sem fim
como quem peleja a vagar

sabendo que é trabalho sem termo...
se me vens: contemplo, apavoro, esmoreço

porque meu olhar se perdeu no horizonte
e a cegueira, se providência, é límpida, é monte

Busco-te...
para me silenciar

(29 set. 2008)

Meus Caros,

peço-lhes para se dirigirem ao post anterior,
tendo em vista que não houve atualização por parte do sistema...

11/01/2010

curta


foto: Sweetcharade


Sem ler-te...

tateio a poesia

em busca do olhar

último gravado

à curta retina


ora temo luz

ora escuridão

sigo-te avulto

e sonâmbulo


hercília fernandes



não seja o último jamais

mas o mais recente olhar

e para sempre destemido

à luz ou à escuridão

o perene poema infindo

a mão tateando a perfeição

da poesia que ocupa o lugar

de barco tocando o cais


fred matos



10/01/2010

escuta

foto: Sweetcharade


quero falar

faltam palavras

resta ceifar repouso

onde alento ouço

pausa



09/01/2010

vide bula




Nem tudo poesia

Nem tudo fa bula ção

Às vezes vão asas do achismo

o poema que nada tem com isso

não apresenta contra-

indicação...


*Imagem disponível no blog Coleção.

08/01/2010

élan

ou, melancólica...


O fio toma forma...

a canção torna-se menor: mel e cólica

o élan lírico adorna, em grau maior, o novel ancestral

........dos meus versos.



(23 mai. 2009)


07/01/2010

satisfação


Talvez estranhes

as palavras: meu basto silêncio

Dizem falar quando se cala...

tenho domado lábios...

menos, lágrimas


*Imagem sem autoria bastante difundida na Blogosfera.


06/01/2010

trêsóis


Enquanto bebo cerveja...

olho as imagens postas sobre a mesa

penso no que poderia ter sido, no que poder-se-ia ser

se ainda há eu e você, se há uno em nós ou se fomos tão sós

que precisávamos de trêsóis para aquecer nossas

longas noites de inverno.


Enquanto bebo cerveja

esqueço que há outros entrelençóis...


(14 jun. 2009)


05/01/2010

quando apaixonada...


.....se lança ao mar

...........escreve longas cartas

...................se perfuma com sândalo

.....................calça revoada de tamancos

.................se mostra infantilizada

......alimenta bravio desejo


......veste despe vermelho

.............................usa flor no cabelo

..............................dança dança do ventre

...............................é açúcar, tântalo, semente

............................se espalha, si- mula

.......dobras, coxas, queixo, nuca:

..................entredentes...


(19 jun. 2009)




Caros Amigos,


.........revitalizarei alguns poemas de 2008/2009 enquanto chegam-me os ventos poéticos de 2010. Como podem observar, modifiquei o template do HF diante do espelho. É assim que vislumbro o novo ano: “poeticamente bordô”. Abundante em sonhos, amor, paz e dignidade humana.


Forte abraço em todos e todas,

Hercília Fernandes.


"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)