07/05/2008

Adorno




Que te fizeste para ouvir-me?
Que te fizeste para lavar-me o choro?
Que te fizeste, estranho amor, ao adorno?


Não sou a lua que envolve os teus ardores
Não sou a dor que fazes questão de colorir
Não sou pureza, nem música aos ouvidos de Pã
Não sou mineral, ouro, nenhum talismã...



Sou silêncio
Segredo inconfesso
Material inoxidável
Nuvem abrindo clarão em vale deformável.


Sou anterior e derradeira
Numas – rocha, pavio, inalienável;
Noutras – póstuma, servil e condoreira.


Sou àquela
(mentira, sutil, verdadeira)
que te fizeste adornar-me!...



"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)