08/09/2007

Crendice


Me dê um gole do seu veneno
para eu me embriagar na taberna
para eu enganar a cobra cega
para eu me secar no sereno,
ou, na sua, quente, adega.

Me dê um gole do seu tédio
para eu poder - fingir - cantar vitória
para eu poder - perder - sair do sério
(e dar o fora...)
para eu ceder à sua honra
e à sua glória.

Me dê um gole de sua rotina
porque o Mal não me convence,
nem me contamina.
Nem a sua bebida letal
Nem a fadiga, a pasmaria, ou o caos
Nem a sua latente, devagar, retina.

Me dê um gole de sua tolice
para eu cruzar pontes, fundar diques.
Extrapolar normas, espantar crendices.
Para eu chover na fogueira
feito gente normal.
Para eu ficar à toa,
mansinha, naturalmente bela,
no mundo, perfeitamente, irreal.

Me dê só um gole...
Se não me fizer bem,
também, não lhe fará mal!

"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)