04/01/2007

Marmelada


Há certos dias... em que tudo parece estar fora de lugar. Você olha em volta não enxerga nada, põe defeito em tudo (e em todos) e depois descobre que é você quem está fora de cenário.

Aí, você se pergunta: O que está acontecendo comigo? Por que esse desânimo, essa febre, essa dor a me sufocar o peito e a alma?

Então, sem muitas delongas e mais mais, você se dá conta de que é em vão tentar realizar algo. Não adianta ler, posto que nem mesmo as figurinhas dos autores irão lhe absorver. Não adianta fazer faxina na casa, visto que a vassoura, as flanelas, a bacia e a empregada já estão de mãos atadas, devido as suas mãos já tão calejadas. Não adianta ligar a TV, porque nem mesmo a novela irá lhe entreter. Não adianta também chorar, visto que suas lágrimas, de tão derramadas, já afundaram navios no mar e, até, aviões na praia.

Porém, em meio a toda essa confusão, você resiste e tenta, em vão, sair do ócio, da contramão. Tem a feliz idéia de ir para o fogão - quem sabe fazer alguma coisa gostosa, como aquela velha receita da vovó de torta - Mas é inútil! Posto que a massa - que grande palhaçada! - você não soube sequer dar o ponto. Quando a tira do forno percebe a marmelada, e se espanta com a sua cara nojenta de gosma destemperada.

Então, quando você já está a ponto de um curto-circuito, vê uma luz no fim do túnel e corre aos braços daquele fiel amigo. Ele todo atencioso, cheiroso, macio... lhe olha com aquela feição de ternura e pacificidade, e lhe diz:

- Encosta-se no meu ombro, doçura, hoje só lhe resta dormir!

"O sonhador, em seu devaneio, não consegue sonhar diante de um espelho que não seja profundo."

(Gaston Bachelard)